Publicações/ Extremidades: experimentos críticos 2

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Ativar as extremidades para que elas se conectem com as outras partes. Pode existir metáfora mais adequada para a situação que vivemos hoje, quando os extremos passaram a se reconhecer como extremismos e se dedicam a apagar tudo o que não os ecoe? Aqui, extremidades são tratadas como caminho que ata órgãos externos e internos do corpo, como explica Christine Mello, organizadora deste segundo volume de Extremidades: experimentos críticos, referindo-se a métodos terapêuticos das medicinas orientais.

Nômades, migrantes, refugiados – os invisibilizados –, todos aqueles sempre apartados pelos preconceitos de todas as ordens, que, infelizmente, vêm se fortalecendo, tentam produzir um mundo mais plural, mas ele não se assenta porque os sentidos estão dilatados para filtrar e acolher apenas os iguais. Não tem sido possível enlaçar as partes diferentes. Vivemos em tempos de pressão do global sobre o local, quando as formas de ativismo ficam reduzidas a teclar nas redes, e a autocensura se traveste de estratégia de sobrevivência. Em uma sociedade cada vez mais explicitamente regulada pelo controle das condutas, a política é substituída pelos discursos morais.

Mas os conflitos daí gerados não podem ser empurrados para debaixo do tapete, porque será deles que retiraremos a energia necessária para fortalecer a indispensável ligação entre arte, comunicação e mudança.

O estímulo ao pensamento crítico se faz urgente, pois, nestes tempos, o compartilhamento foi reduzido a um leve pressionar das teclas “enviar” ou “curtir”, e o descomprometimento se transformou em um ruído de fundo, permanentemente presente, regulador das relações que se tornam cada vez mais flácidas e transitórias.

Existir um grupo de estudos dedicado a problematizar as tensões que permeiam a produção artística contaminada pelo que vem sucedendo na comunicação midiática, e seus membros reunirem suas abordagens nesta publicação, é uma iniciativa que deve ser saudada, sobretudo por estarem atentos às velozes transformações que agora atravessam as políticas que nos regulam.

Neste momento em que vivemos, praticar enlaces se tornou uma espécie de artivismo, e, sendo o pensamento crítico sua tônica, tal proposta abre aquela janela que deixa o ar entrar.

Helena Katz