Publicações/ Extremidades: experimentos críticos 3

O momento atual é acelerado e fragmentado, e o excesso de informação ao qual somos submetidos suprime a pausa, o intervalo e o descanso. Isso interfere na nossa percepção, na sensibilidade, na capacidade de fruição estética e de experiência e na formulação crítica. O intervalo é o que possibilita que algo se diferencie e se singularize, sendo fundamental, para a apreciação, a compreensão e a interpretação. Sem isso tem-se apenas uma recepção passiva ou escuta desatenta.

É próprio do exercício da cultura a escuta do outro e, portanto, o engendramento das diferenças. Isso não significa apaziguamento como uma fusão total e eliminação do estranhamento e do contraditório. É justamente na coexistência de diferentes que vemos surgir múltiplos sentidos: o resultado dos encontros e aproximações deve ser maior que a simples somadas partes, já que o significado é ampliado na teia de relações.

O terceiro volume da Coleção eXtremidades é composto por textos de autoria do grupo de pesquisa liderado por Christine Mello (Grupo de Pesquisa eXtremidades: redes audiovisuais, cinema, performance e arte contemporânea) e também de interlocutores externos, que exercitam a crítica sobre as práticas que se colocam entre linguagens, arte e mídias.

A provocação é ampliar a rede, os atravessamentos e as interconexões para considerar as produções em sua complexidade e diversidade.

Assim, este livro nos convida a ativar as extremidades e nos atentar a elas. Penso no extremo de um corpo como margem, fronteira ou borda. É o que demarca, divide e delimita, mas também é o que permite a interface e as trocas entre um e outro. É o limite do pequeno intervalo que o separa do que faz parte de todo o restante; é o que permite o estabelecimento do encontro, da comunicação, do contato. Em outras palavras, o que permite definir a diferença entre eu e o mundo é precisamente o que nos permite conhecer esse outro e estabelecer contato com ele.

Do ponto de vista das linguagens, as extremidades são o lugar próprio dos limites e das idas e vindas. Colocar-se nessa posição é respeitar a existência do outro para com ele estabelecer uma partilha que não imponha uma homogeneização. Ao contrário, as autoras e os autores aceitam o desafio de falar de produções atuais, propondo abordagens diversas e que consideram as práticas artísticas também em suas dimensões estéticas, políticas e sociais. E com isso contribuem para refletir sobre a arte, as mídias e o mundo em que vivemos.

Marina Polidoro